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Foto: Reprodução/TV Globo/Maio de 2025
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quarta-feira 18 de junho de 2025 às 12:44h

Aos 93 anos, a única filha de Lampião e Maria Bonita é hoje a maior testemunha viva da era do cangaço

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Filha do casal mais icônico da história do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, Expedita Ferreira Nunes carrega há mais de nove décadas o peso e o prestígio de um dos capítulos mais emblemáticos do sertão nordestino. Nascida em 13 de setembro de 1932, no município de Porto da Folha, no estado de Sergipe, Expedita é a única filha reconhecida do casal e se tornou uma guardiã da memória de seus pais — símbolo da luta e da resistência do povo sertanejo.

Da infância marcada pela ausência ao papel de herdeira histórica

Expedita foi entregue, ainda recém-nascida, a um casal de coiteiros — Manuel Severo e Aurora — que tinham a missão de protegê-la longe dos confrontos em que viviam os cangaceiros. Aos 5 anos, ficou órfã após a emboscada que vitimou seus pais em 1938, mas só foi retirada do convívio dos coiteiros três anos depois, por ordem judicial. Passou então a ser criada pelo tio paterno, João Ferreira, na cidade de Propriá, em Alagoas.

Maria Bonita e Lampião no centro — Foto: Reprodução/Redes sociais

Apesar das poucas lembranças da infância ao lado dos pais, Expedita carrega memórias afetivas profundas. Em entrevista, relembrou com emoção:

“Quando ele [Lampião] chegava em casa e me pegava, me abraçava… eu tinha medo de tudo. Mas meu pai me botava no colo e o medo acabava”.

Família, memória e luta pela imagem dos pais

Casou-se em 1947 com Manoel Messias Nunes Neto e estabeleceu-se definitivamente em Aracaju (SE). Juntos, tiveram quatro filhos: Iza, Gleuse, Dejair e Vera, sendo esta última socióloga e pesquisadora da história do cangaço, reforçando o vínculo familiar com a memória de Lampião e Maria Bonita.

Expedita, filha de Lampião e Maria Bonita, na quadra a Imperatriz entre o casal de porta-bandeira Rafaela Theodoro e mestre-sala Phelipe Lemos em 2023 — Foto: Divulgação/Imperatriz Leopoldinense

Expedita também atua como sócia majoritária da empresa que detém os direitos de imagem de seus pais, e tem travado batalhas judiciais para proteger esse legado. Entre as ações que promoveu, destacam-se processos contra redes de motel (em 2011), contra a plataforma Netflix (em 2022), por uso indevido da imagem dos cangaceiros, e contra um escritor/editor (em 2023), alegando ofensa à honra e memória de seus familiares.

Cultura, reconhecimento e representatividade

Mesmo com idade avançada, Expedita segue sendo figura pública e respeitada, aparecendo em eventos, programas e homenagens por todo o Brasil. Em 2023, aos 90 anos, foi homenageada nos desfiles das escolas de samba Imperatriz Leopoldinense (RJ) e Mancha Verde (SP), que exaltaram a cultura nordestina e a saga dos cangaceiros.

Expedita é a única filha reconhecida oficialmente dos reis do cangaço Lampião e Maria Bonita — Foto: Reprodução/Redes sociais

Também no mesmo ano, recebeu da Câmara de Vereadores de Aracaju o título de cidadã aracajuana, aprovado por unanimidade — reconhecimento do seu papel histórico e cultural para o estado de Sergipe.

Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL – Fonte: Livro ” Lampião e as Cabeças Cortadas, pg. 204, Antonio Amaury e Luiz Ruben.

Na mídia, sua história foi contada em programas como o Mais Você e em documentários e séries, como “Maria e o Cangaço”, produzida pelo Disney+, onde sua trajetória pessoal se mistura com a lenda dos seus pais.

Uma ponte entre o mito e a história

Reconhecida como a única filha biológica de Lampião e Maria Bonita por exame de DNA, Expedita Ferreira Nunes é hoje a maior testemunha viva da era do cangaço. Aos 92 anos, ela preserva o legado com dignidade, firmeza e um senso claro de identidade. Seu papel vai além do sangue: é o de manter viva a história, dar voz às raízes do sertão e garantir que o Brasil jamais esqueça os homens e mulheres que ousaram desafiar a ordem em nome de justiça — mesmo que pelas armas.

Multidão quando soube que mataram o chefe do Cangaço – Foto: Reprodução/Arquivo Nacional

Expedita é, enfim, o elo entre o mito e a realidade. Uma mulher cuja existência é, por si só, parte da própria História do Brasil, principalmente de nós nordestinos.

Autoridades ao lado da cabeça de Lampião, líder do Cangaço – Foto: Reprodução/Arquivo Nacional
A Grota do Angico é um leito seco de rio, com uma pequena gruta, que serviu de esconderijo para o bando. No dia 28 de julho de 1938, a volante de Piranhas chegou de madrugada e surpreendeu os cangaceiros que ainda estavam acordando. O bando era formado por 35 cangaceiros, onze deles foram mortos e decapitados no local, dentre eles, Lampião e Maria Bonita, 24 conseguiram fugir – Foto: Reprodução/Arquivo Nacional

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