Aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avaliaram conforme a coluna de Gabriel Sabóia, do O Globo, que o ex-mandatário acertou ao relatar em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira, que tratou com auxiliares a possibilidade de adotar instrumentos como o Estado de Sítio ou a chamada Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Segundo o ex-presidente, as medidas foram descartadas e não havia “clima”, “oportunidade” e “base minimamente sólida para qualquer coisa”, em uma alusão à uma tentativa de golpe no país.
Ao testemunhar no caso, os ex-chefes do Exército e da Aeronáutica descreveram esses debates como de teor golpista, o que Bolsonaro negou. Para os aliados, Bolsonaro erraria ao negar as evidências dos diálogos.
O desempenho de Bolsonaro frente ao ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, também foi visto como “positivo” pelo fato de Bolsonaro ter conseguido demonstrar descontração em alguns momentos e ter pedido desculpas por falas que associavam Moraes a crimes.
O ex-presidente lembrou que a sua conduta combativa o rendeu processos desde os tempos em que era vereador.
Filho mais velho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) argumenta que o ex-presidente passou verdade ao não negar o diálogo com os auxiliares para adotar o Estado de Sítio.
— Ficou claro que ele não tem qualquer culpa e que o golpe nunca foi discutido. Esse debate se encerrou quando foram vistos os limites da legalidade. A avaliação do depoimento é muito boa, já que Bolsonaro mostrou não ter qualquer questão pessoal com Moraes e admitiu até que ponto conduziu os diálogos — diz o senador.
Em outro momento do depoimento, o ex-presidente foi questionado pelo magistrado sobre as elaboração de uma minuta golpista, citada na delação de Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, mas afirmou que não teve acesso ao documento.
Segundo o ex-presidente, em uma reunião com comandantes das Forças Armadas, no Palácio da Alvorada, após as eleições, foi exibido um documento com considerações a respeito da situação do país. Naquele momento, apoiadores do seu governo se aglomeravam em frente quartéis e caminhoneiros fechavam estradas pedindo uma intervenção militar no país.
Ele acrescentou que não teve acesso à minuta golpista citada pelo seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Em seu depoimento, Cid disse que Bolsonaro fez ajustes no documento, que previa a prisão de Moraes.
Secretário-geral do PL, o senador Rogério Marinho (PL-RN) ressalta que Bolsonaro também se desvinculou dos apoiadores que faziam acampamentos em frente aos quartéis nos momentos posteriores à divulgação do resultado eleitoral.
— Bolsonaro foi muito bem em seu depoimento. Não deixou nenhuma brecha para repercussão negativa e rebateu todos os pontos com facilidade. Ficou claro, para quem ouviu, que não houve golpe nem qualquer crime cometido pelo presidente. Ele determinou a transição de governo, nomeou os comandantes militares indicados por Lula, solicitou o desbloqueio das estradas e não cedeu à pressão daqueles que estavam irresignados com o resultado das eleições — afirma.
Vice-presidente do Congresso, Altineu Côrtes (PL-RJ) diz que Bolsonaro conseguiu se comunicar até mesmo com quem não é seu eleitor.
— Foi uma oportunidade de todos, sejam eleitores dele ou não, verem a franqueza no Bolsonaro. Ele não nega até onde foi nos diálogos, mas não excedeu a lei. O que se viu foi um Bolsonaro mais leve, sem qualquer agressividade, e que derrubou os pontos da delação do Mauro Cid. Ele foi muito bem em se dirigir de maneira gentil ao Moraes — avalia.
O interrogatório ocorreu no âmbito da ação penal que avalia se Bolsonaro e outros sete réus, o chamado “núcleo crucial”, planejaram um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula no fim de 2022. Eles são acusados dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.