A Polícia Federal descobriu 29 novas drogas sintéticas em circulação no País ao longo do ano de 2023. O número triplicou em relação a 2022, quando foram identificadas nove substâncias desconhecidas em uso no mercado.
Segundo peritos da PF, considerando a América Latina e o Caribe, o Brasil é o país que mais tem reportado a presença das NSP (Novas Substâncias Psicoativas) nos últimos anos. A distribuição é dominada por estimulantes, alucinógenos “clássicos” e canabinóides sintéticos emergentes.
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Os dados estão reunidos em um documento de 42 páginas produzido pelo Serviço de Perícias de Laboratório do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal. Os números foram consolidados a partir dos laudos sobre apreensões de drogas sintéticas emitidos pelas unidades de criminalística da PF em todo o País no ano de 2023.
Produzido anualmente, o relatório serve para identificar tendências de consumo e tráfico e para nortear políticas públicas de combate às drogas.
Proporcionalmente, as drogas sintéticas “clássicas” – anfetamina, MDA, MDMA, metanfetamina, DOB, DMT, LSD, GHB e heroína – ainda são maioria no universo de apreensões da PF (60,5%), mas o percentual vem reduzindo em relação a anos anteriores.
As drogas classificadas pela PF como “clássicas” são aquelas documentadas na Convenção Única de Entorpecentes (1961) e na Convenção sobre Substâncias Psicoativas (1971), ambas promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2022, por exemplo, essas substâncias representavam 87% do total de drogas sintéticas identificadas pela corporação.
Atrás das drogas “clássicas” estão os canabinoides sintéticos, que corresponderam a 10,4% das apreensões da PF em 2023.
“O crescimento dos tipos de substâncias psicoativas reforça a necessidade de estratégias robustas de monitoramento e controle, juntamente com o aprofundamento da cooperação internacional”, afirma Marcos Camargo, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF).
Segundo Camargo, a PF “tem se empenhado na atualização constante das técnicas de detecção, fundamentais para acompanhar a rápida evolução do comércio ilícito e garantir eficácia ao combate às novas substâncias psicoativas que surgem no Brasil”.
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As duas substâncias mais detectadas em 2023 foram, novamente, a metilenodioximetanfetamina (MDMA) e a metilenodioxianfetamina (MDA). No entanto, pela primeira vez, o número de apreensões de MDA superou o de MDMA.
Em 2023, foram registradas 243 ocorrências relacionadas a MDA, isto é, 25,2% do total de drogas sintéticas apreendidas, enquanto o MDMA – que, historicamente, liderava no quesito – somou 201 ocorrências (20,8%).
Por outro lado, o MDMA ainda predomina em apreensões na forma de pó ou cristais, indicando que seu consumo segue alto.
A Polícia Federal também identificou uma mudança no perfil do mercado de metanfetamina. Em 2023, houve o maior volume de apreensões da droga na forma sólida desde o início da série histórica, há nove anos.
A metanfetamina é uma droga estimulante da mesma classe do MDMA e do MDA, mas com um perfil de consumo diferente, porque produz efeitos intensos e que podem durar até 12 horas.
Ao longo de 2023, a PF registrou a maior diversidade de drogas sintéticas e o maior número de novas substâncias psicoativas inéditas desde 2016, ano em que foi iniciado o monitoramento dos compostos, culminando na elaboração do primeiro relatório sobre drogas sintéticas. Ao todo, foram identificadas 80 diferentes drogas sintéticas (clássicas e NSP), dentre as quais destacam-se 29 novos compostos.
O cenário aponta uma diversificação contínua das NSP no mercado ilícito e reforça a importância do monitoramento e controle de novas substâncias.
As apreensões de LSD (dietilamida do ácido lisérgico) atingiram o maior nível registrado desde o início do monitoramento, com 71 ocorrências (11,3% do total) em 2023 – um aumento expressivo em relação às 49 ocorrências anotadas em 2022. Foram 11.826 unidades e 21,15 ml apreendidos em 2023 contra 2.580 unidades e 4,2 ml em 2022.
“O mercado de LSD mostra uma expansão, especialmente em ambientes recreacionais, como festas, onde o consumo é mais comum”, destaca Marcos Camargo.
Na avaliação dos peritos da PF, o constante surgimento de novos compostos e de misturas complexas “evidencia a urgência de uma resposta adaptativa e coordenada entre vigilância, pesquisa científica e regulamentação, a fim de enfrentar os desafios crescentes no mercado ilícito de drogas”.
Em âmbito global, destaca o relatório, as drogas sintéticas continuam a expandir seu alcance, com implicações relevantes para a saúde pública, tanto no Brasil quanto internacionalmente. “As variações observadas na frequência e na proporção dessas substâncias refletem mudanças nas preferências de consumo, retratando novas tendências no mercado ilícito.”
“Os dados concatenados enfatizam a importância de estratégias robustas e adaptáveis para monitorar e controlar o tráfico de drogas sintéticas no Brasil, uma vez que a dinâmica evolução das substâncias no mercado ilícito exige atuação proativa das autoridades, com foco na atualização das ferramentas de fiscalização e no fortalecimento da colaboração internacional para mitigar os riscos associados a essas substâncias emergentes”, diz o documento.
Overdoses
O relatório do Serviço de Perícias de Laboratório do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal ressalta que, embora as apreensões federais não tenham identificado misturas contendo nitazenos (opioide que pode ser até 40 vezes mais potente que o fentanil), estudos revelam sua presença em drogas de rua, frequentemente associados a outras substâncias ativas.
“Essas combinações têm sido cada vez mais relacionadas a um aumento no número de mortes por overdose, alinhando-se ao panorama observado na Europa e América do Norte”, alerta o relatório.
O cenário “exige atenção urgente e coordenada para prevenir potenciais impactos graves à saúde pública do Brasil”, defendem os peritos.
Veja as classificações da Polícia Federal sobre as drogas sintéticas:
- Drogas Clássicas
- Canabinoides sintéticos
- Catinonas sintéticas
- Feniletilaminas
- Aril-ciclo-alquilaminas
- Outras substâncias sintéticas
- Triptaminas
- Lisergamidas
- Benzodiazepinas
- Opioides sintéticos
- Substâncias de origem vegetal
- Misturas