Em reação ao lançamento de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara, União Brasil e PSD fecharam um acordo para enfrentar o novo candidato, alçado à condição de favorito na disputa após receber sinalização favorável do governo, da oposição e do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Os dois partidos, até o momento, contam com a postulação de Elmar Nascimento (União-BA) e Antônio Brito (PSD-BA), que tiveram as campanhas abaladas. Agora, a ideia é que o melhor colocado entre os dois, mais à frente, seja o representante das siglas.
Já o Palácio do Planalto, que trabalha por Motta, começou a operar para que o deputado do Republicanos tivesse adesão de toda bancada do MDB na Câmara.
A desistência de Marcos Pereira (Republicanos-SP) e o lançamento de Motta também tiveram impacto entre bolsonaristas. Se antes era certo que Elmar teria o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), agora o cenário é outro. O líder do União se reuniu com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e falou por telefone na quinta-feira com Antônio Brito.
Integrantes do PSD e do União Brasil admitem que Motta larga na condição de favorito, mas, ao mesmo tempo, entendem que ainda há margem para outros candidatos serem competitivos.
Mesmo com a sinalização de apoio do PT e parte do PL a Motta, Brito e Elmar procuraram na quinta-feira integrantes dos dois partidos.
Um aliado de Kassab lembra que União e PSD ficaram bem próximas por conta do Senado, onde o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem como principal aliado Davi Alcolumbre (União-AP), favorito para comandar o Senado no ano que vem.
Emedebistas cobiçados
O PSD também conta com o MDB para aliança contra Motta, mas integrantes da legenda já sinalizaram apoio ao Republicanos e lembram que o candidato começou sua carreira política no MDB.
Do outro lado, uma parte do PP, que tem o senador Ciro Nogueira (PI) como presidente e um dos articuladores a favor de Motta, avalia que União Brasil e PSD ficarão isolados e vão acabar tendo que compor com o líder do Republicanos.
Novidade na disputa, Motta foi lançado pelo presidente do Republicanos justamente por uma falta de apoio do PSD. O que Pereira temia era o endosso do partido de Kassab a Elmar, que era visto como favorito pela proximidade com Lira.
Além de contar com os votos dos deputados do PT, articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizam aliados pelo apoio dos 44 parlamentares do MDB. O partido integra a base do governo e está à frente de três ministérios na Esplanada (Planejamento, Transportes e Cidades).
O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG) é um dos escalados para conversar com emedebistas. Em paralelo, ministros de Lula já se colocaram à disposição para acionar o governador do Pará, Helder Barbalho, para ajudar na articulação, caso haja resistências entre deputados do MDB ao nome de Motta. Por ter nove dos 44 deputados, o MDB do Pará tem grande influência sobre a bancada.
No Palácio do Planalto, articuladores de Lula trabalham com a possibilidade de o líder da bancada do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), ser o coordenador da campanha de Motta. Emedebistas ponderam que essas negociações também dependerão do andamento das discussões para distribuição de cargos para a Mesa Diretora e comissões temáticas da casa. Questionado, Bulhões não respondeu.
O presidente e seus ministros mais próximos têm atuado diretamente para construir um nome de consenso para a sucessão de Lira. A candidatura de Motta é considerada a que tem mais chances de unificar o Centrão e evitar uma disputa que poderia provocar fissuras na base governista.
Até a proximidade de Hugo Motta com o ex-deputado Eduardo Cunha e Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, é minimizada pelo entorno do presidente Lula.
O petista tem acionado também a presidente de seu partido, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), para conversarem com partidos em busca de um consenso.
Integrantes do MDB com assento na Esplanada avaliam que, em um cenário em que Motta tenha o apoio do governo federal, o caminho mais provável do partido é de apoio ao candidato do Republicanos.
União marca reuniões
O União Brasil, por sua vez, marcou duas reuniões para a próxima semana com o objetivo de decidir se vai manter ou não a candidatura de Elmar. A primeira conversa será da bancada da legenda na Câmara e acontecerá na segunda-feira. No dia seguinte a previsão é que a Executiva Nacional da sigla se reúna e tome uma decisão.
O candidato do União Brasil recebeu o respaldo de seu partido para continuar na disputa, mas Lira ainda tenta um acordo para Elmar desistir e apoiar Motta.
Deputados do PL, por sua vez, se reunirão na próxima segunda-feira para debater a sucessão. Motta é considerado um candidato que conta com a simpatia de pessoas com influência direta sobre as decisões de Jair Bolsonaro.
Os senadores Ciro Nogueira e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo, intermediaram um encontro do ex-presidente com Motta na quarta-feira e afirmaram a interlocutores que “trata-se de uma opção”.
Pesa o fato de Motta ter substituído Pereira, com quem Bolsonaro acumulou rusgas nos últimos anos. Ao contrário de Pereira, Motta transita bem entre o “núcleo duro” do bolsonarismo. O deputado já enfrentou o petismo, quando votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e era próximo de Eduardo Cunha, quando fazia parte da “tropa de choque” do parlamentar.