Relatório, que dias atrás levou Boris Johnson a renunciar, afirma que ex-premiê britânico “enganou deliberadamente” parlamentares ao dizer que restrições sanitárias foram respeitadas em festas em Downing Street. Uma comissão de inquérito do Parlamento britânico concluiu que o ex-primeiro-ministro Boris Johnson “enganou deliberadamente” os parlamentares no escândalo das festas na residência oficial do premiê britânico durante os confinamentos da pandemia de covid-19.
O antigo líder conservador, de 58 anos, foi informado na semana passada das conclusões condenatórias da investigação de 14 meses sobre as festas na residência oficial de Downing Street, em Londres, durante os confinamentos impostos em 2020 e 2021.
Após ter tido conhecimento antecipado das conclusões, Johnson renunciou ao seu mandato parlamentar na sexta-feira passada (9). Nesta quinta-feira, após a divulgação do conteúdo do relatório, ele declarou que é alvo de uma “caça às bruxas” e vítima de “assassinato político”.
“A comissão não encontrou uma única prova”, argumentou Johnson numa longa declaração, reafirmando que acreditava não ter feito nada de errado e apontando o que considera serem mentiras e “conclusões doentias” da comissão.
A Comissão de Privilégios da Câmara dos Comuns, responsável pelo relatório, é composta por sete deputados, quatro dos quais do Partido Conservador.
Durante debates semanais na Câmara dos Comuns em 2022, Johnson declarou repetidamente que todas as restrições sanitárias foram respeitadas em Downing Street durante a pandemia.
Consequências do relatório
Como Johnson não é mais membro da Câmara dos Comuns, os riscos políticos imediatos do relatório são reduzidos.
No relatório, a comissão afirma que recomendaria uma suspensão de 90 dias para Johnson se este não tivesse renunciado. A decisão bastaria para que houvesse uma nova eleição para o assento de Johnson e provavelmente teria desencadeado uma nova crise política no Reino Unido.
O documento, que ainda precisa ser votado pelos deputados, pede ainda que seja retirado de Johnson o acesso dele às instalações do Parlamento, um direito que é concedido aos antigos chefes de governo.
O relatório é divulgado um ano depois de Johnson ter renunciado ao cargo de primeiro-ministro, que ocupou por três anos.
A revelação de que ele mentiu reacendeu guerras internas no Partido Conservador, no poder há 13 anos, pois Johnson mantém aliados influentes e tem muito poder sobre as bases partidárias por ter obtido uma vitória histórica na eleição geral de 2019.