Um ano após a oficialização das primeiras federações partidárias no país, siglas se preparam de acordo com matéria de Carolina Turtelli e Victória Abel , do O Globo, para enfrentar uma prova de fogo ao iniciar as discussões sobre a montagem das chapas para as eleições municipais. Pela norma, as legendas que decidiram se juntar precisam superar divergências locais para escolher candidatos em comum nas disputas por prefeituras em 2024. Já prevendo dificuldades, dirigentes buscam apoio para mudar as regras e poder lançar um número maior de concorrentes ao menos para os cargos de vereador.
Até agora, só existem três federações. A do PT-PCdoB-PV, PSDB-Cidadania e PSOL-Rede. Lideranças do União Brasil e do PP discutiram a formação de uma quarta no início do ano, mas as conversas foram abandonadas após falta de acordo em algumas regiões.
Para se manter unida, a federação encabeçada pelo PT precisará justamente contornar confrontos locais para escolher quem será o candidato a prefeito em ao menos duas capitais, incluindo a maior do país, São Paulo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já indicou o apoio ao deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), embora a ideia enfrente resistências no PT municipal. Desde a redemocratização, o partido nunca deixou de ter candidato na capital paulista. Porém, mesmo que não apoie Boulos, os petistas terão que convencer internamente a federação a apoiar um nome da sigla. Uma ala do PV defende lançar o ex-candidato à Presidência Eduardo Jorge como opção para a prefeitura paulistana. Na visão desse grupo, a imagem do deputado como líder dos sem-teto pode atrapalhar um bom desempenho dele na cidade.
— Isso é uma discussão que vamos ter de fazer internamente. O PV vai ter de cuidar disso também. Porque o que vai prevalecer é a decisão da federação. Vamos fazer um debate nacional com as direções dos três partidos sobre as disputas pelo país — afirmou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao GLOBO.
Disputa em Salvador
Segundo Gleisi, que acumula a presidência do PT com a da federação, os partidos devem começar a se debruçar no mapa das candidaturas nos próximos meses para traçar uma estratégia conjunta. A ideia é fazer um diagnóstico de onde há mais chance de vitória nas cidades acima de 100 mil eleitores antes de definir nomes.
Além de São Paulo, o PT deve ter concorrência interna para escolher o candidato em Salvador, maior colégio eleitoral do Nordeste. O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), vice-líder do governo Lula na Câmara, tem defendido lançar um nome de seu partido. Enquanto isso, a executiva soteropolitana do PT quer uma candidatura própria. Entre os cotados está o deputado estadual Robinson Almeida (PT-BA).
—Temos tratado na federação de definir um critério a partir de dados que mostrem a viabilidade do candidato — disse Daniel Almeida ao jornal. — Salvador é um município decisivo e nós temos muito interesse em ter uma candidatura. Temos a deputada estadual mais votada (Olívia Santana, do PCdoB). Respeitamos outros candidatos, que são bons, mas estamos trabalhando para que ela seja o nome que unifique não só a federação, mas toda a base do governador.
No caso da federação PSOL-Rede, integrantes das siglas afirmam ainda não ter iniciado as discussões eleitorais. Enfraquecida após eleger apenas dois deputados no ano passado, a Rede tem na união com o PSOL sua última esperança para continuar existindo.
Em outro casamento, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, defende expandir a aliança com o PSDB para incluir o MDB no grupo. Na mesa de discussões está o apoio da federação à candidatura de Ricardo Nunes (MDB) a mais um mandato à frente da prefeitura de São Paulo.
— No nosso exemplo, em que há uma discussão em curso com o MDB, entram candidaturas dentro dessa visão maior. Acredito que talvez não tenha um município brasileiro onde não tenha um desses dois partidos, o PSDB ou o MDB ou os dois — afirmou Freire.
A expectativa é que, com o aumento da rigidez da cláusula de barreira — regra que impede o acesso de partidos a recursos públicos e tempo de TV caso não atinja um percentual mínimo de votos —, novas federações e fusões de legendas aconteçam.
— Ainda é pouco tempo para avaliar o sucesso das federações, mas estamos afinados com a História. É o futuro — disse o dirigente do Cidadania.
Rebelião no PV
O modelo de junção dos partidos foi criado no ano passado como solução ao fim das coligações e é uma alternativa intermediária às fusões partidárias. Nesse formato, as legendas precisam atuar de forma conjunta no Congresso e nas disputas eleitorais pelo período de quatro anos. Caso decidam sair antes, ficam proibidas de ingressar em nova federação e de utilizar o Fundo Partidário no período.
Os conflitos internos nas federações, porém, não envolvem apenas a montagem das chapas eleitorais. No Distrito Federal, a federação PSDB-Cidadania enfrenta uma guerra interna pelo comando local. O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) venceu a primeira queda de braço com a deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) para se lançar ao governo no ano passado.
Na federação PT-PCdoB-PV a crise ocorreu na Câmara. Descontentes com a distribuição de cargos em comissões, deputados do PV se rebelaram e ameaçaram nos bastidores deixar o partido. Em um gesto para acalmar os ânimos, na semana passada o PT abriu mão de uma das cadeiras a que tem direito na CPI dos Ataques Golpistas em favor do PV.
Em outra frente, partidos defendem uma alteração na regra que federações possam lançar até 30% mais candidatos a vereador que as demais legendas. Atualmente, a legislação limita ao número de cadeiras em disputa mais um. Ou seja, se uma cidade tem nove vereadores, o conglomerado de partidos pode lançar no máximo dez concorrentes. A mesma quantidade de uma sigla que concorre sozinha.