“Antes tarde do que nunca” foi a frase largamente repetida pelos abolicionistas após a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Isso porque o Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravatura. No entanto, a vereadora Ireuda Silva (Republicanos), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice da Comissão de Reparação, aponta que “a pressão sobre o Império em relação ao tema resultou em uma abolição atabalhoada, que até hoje não trouxe a liberdade prometida”.
“A liberdade prometida pela Lei Áurea ainda não chegou. Todos os pesquisadores são unânimes ao dizer que a abolição foi meramente formal, fruto de uma pressão da Inglaterra, que tinha interesses comerciais. Foi uma abolição falsa, que ainda não trouxe a liberdade prometida há 135 anos”, avalia a vereadora.
À época, o escritor e diplomata abolicionista Joaquim Nabuco (1849-1910) disse que “a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.
Para a vereadora, ele tinha toda a razão. “Até hoje a escravidão nos influencia e define nossa identidade. Diferente de outros países, o Brasil pós-abolição não criou leis para promover e oficializar a segregação, mas continuou profundamente racista, em que a segregação é disfarçada pela hipocrisia”, diz Ireuda.
A parlamentar destaca ainda que a inserção dos negros no mercado de trabalho e em outros setores, conquistada por mérito da luta contra o racismo, é real, mas a estrutura da sociedade ainda é racista e escravista.
“Em certo aspecto, é literalmente escravista. É cada vez maior o número de pessoas resgatadas em condições análogas à escravidão. E isso parte de uma ideia de que o negro é um corpo a ser explorado, de que ele não precisa nem merece ser pago e tratado com dignidade”, pontua.