O Brasil corre um alto risco da volta da poliomielite, em especial devido às baixas de vacinação. Outros fatores, como o processo de imigração constante, saneamento inadequado e falta de vigilância ambiental também contribuem para o aumento dessa possibilidade. O alerta foi feito por Luiza Helena Falleiros, presidente da Câmara Técnica de Poliomielite do Ministério da Saúde, durante a sétima edição do International Symposium on Immunobiologicals (ISI), segundo informações da Agência Brasil. O evento, realizado no Rio de Janeiro, é promovido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Bio-Manguinhos/Fiocruz.
— Com o processo de imigração constante, com baixas coberturas vacinais, a continuidade do uso da vacina oral, saneamento inadequado, grupos antivacinas e falta de vigilância ambiental, vamos ter o retorno da pólio. O que é uma tragédia anunciada — alertou Falleiros.
Para a pesquisadora, as vacinas são vítimas do seu próprio sucesso.
— Hoje ninguém mais viu um caso de pólio. Não se tem essa noção de risco enorme, mas ele existe. E não tem milagre, nem segredo. Tem que vacinar.
Insônia: causas, sintomas e quando procurar tratamento para problemas com o sono
A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, pode matar ou provocar sequelas motoras graves. A doença foi erradicada no país em 1989 graças ao sucesso das campanhas de vacinação. No entanto, um estudo do Comitê Regional de Certificação de Erradicação da Polio 2022, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) aponta o Brasil como segundo país das Américas com maior risco de volta da poliomielite, atrás apenas do Haiti.
Um caso recente da doença foi confirmado em Loreto, no Peru, o que aumentou a vigilância nas fronteiras. Há 30 anos, o continente estava livre de registros da doença.
Cobertura vacinal
No ano passado, a cobertura vacinal para a doença ficou em apenas 77,16% no país, segundo dados do Ministério da Saúde. A taxa está muito abaixo dos 95% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para impedir a circulação do vírus.
Para José Cassio de Morais, assessor temporário da Opas, os fatores que mais interferem na cobertura são: confiança nas vacinas distribuídas pelo governo, medo da reação vacinal, dificuldade de acesso aos postos de vacinação, nível de renda familiar e escolaridade da população. Segundo ele, a melhora desse quadro depende de mais investimento em campanhas e na informação de qualidade.
— Temos uma avalanche de fake news a respeito das vacinas e que trazem muito dano para a população. Mas não temos quase notícias positivas a respeito da vacina. Tem tido muito pouca divulgação da campanha de vacinação contra influenza, por exemplo. Temos que melhorar isso, divulgar melhor os fatos positivos em relação à vacina — disse o assessor da Opas.