O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi aconselhado por aliados, mais uma vez, a assumir a liderança do movimento político que criou. Ele resiste. Prometeu aos ministros do Supremo que dele não virá baderna institucional.
Mas, conforme o Bastidor, a pressão de alguns de seus principais apoiadores prossegue. Na última terça-feira (15) milhares de eleitores do presidente foram aos quartéis contestar o resultado das eleições e pedir um golpe militar. É a segunda semana de manifestações. Nas palavras de um tuíte do general Villas Bôas, que viralizou na madrugada de ontem, foram “pedir socorro” às Forças Armadas. Um eufemismo para intervenção militar.
Quanto mais tempo Bolsonaro permanece em silêncio, mais uma parte de sua base busca “socorro” diretamente entre os militares. Na avaliação de aliados, Bolsonaro perde capital político com a inércia. Há aliados mais aloprados que pedem a Bolsonaro para quebrar seu compromisso com o Supremo e apoiar a pauta golpista – um movimento que provavelmente resultaria na prisão de alguns dos envolvidos e expulsaria o ainda presidente de ser candidato em 2026; o Congresso e o Judiciário puniriam com rigor uma atitude tresloucada de Bolsonaro.
Há outros aliados, contudo, que aconselham o presidente a seguir outra estratégia. Bolsonaro passaria a falar aos seus eleitores e à frustração deles, reconhecendo o sentimento de injustiça que eles expõem, mas sem apoiar discursos golpistas. Organizaria sua base para uma oposição “dentro das quatro linhas” contra Lula. Assim, raciocinam aliados, Bolsonaro poderia manter seu expressivo apoio popular com vistas às eleições de 2024 e 2026.
O problema desse caminho é simples: Bolsonaro acredita, de fato, que foi roubado. Sendo assim, já indicou a aliados que não conseguiria falar sem endossar, de alguma maneira, o movimento em frente aos quartéis.
O comportamento de Bolsonaro é instável e, num momento de pressão, imprevisível. Se abandonar o silêncio, ninguém sabe dizer se não elevará a tensão de uma transição difícil. De uma coisa seus aliados e adversários têm certeza: a ausência de Bolsonaro, caso prossiga, será preenchida. Por uma liderança ainda mais radical, ainda que demore um tempo. A base social do presidente e as insatisfações que ela demonstra não se esvairão tão cedo.