O presidente do PSDB, Bruno Araújo, aguarda o desfecho de acordos regionais com o MDB para marcar uma nova reunião da executiva do partido, com o objetivo de selar o apoio dos tucanos à pré-candidatura de Simone Tebet (MDB-MS).
Segundo a Folha, a direção do PSDB exigiu o apoio dos emedebistas em Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul para garantir a aliança com a senadora.
Mas, segundo integrantes das cúpulas do PSDB e do MDB, os dois primeiros estados não representam grandes entraves e o empecilho está no Rio Grande do Sul. “A bola está com o MDB”, disse Araújo à Folha.
A reunião da executiva tucana ocorreria na semana em que João Doria abriu mão de disputar a Presidência —ele desistiu em 23 de maio.
Ela foi remarcada para aguardar acordos com emedebistas e para evitar dar palanque à ala tucana que resiste a apoiar Tebet, capitaneada pelo deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG).
Diante disso, Tebet resolveu tomar pelas mãos as articulações e pretende iniciar as conversas pelo Sul, onde tem boa relação com emedebistas históricos da região.
Ela viaja a Porto Alegre nesta quinta-feira (2) para agenda oficial de pré-campanha. Ao mesmo tempo, vai tentar construir um palanque regional e assim destravar o acordo que pode garantir o apoio do PSDB para a sua pré-candidatura.
A direção emedebista tem pressa para resolver o palanque no Rio Grande do Sul e fechar o acordo com o PSDB. Figuras antigas do MDB gaúcho, porém, resistem a apoiar os tucanos automaticamente e avaliam que o caso pode se arrastar até julho, perto do início das convenções partidárias.
O plano A de Araújo é que Eduardo Leite (PSDB) tope ser candidato ao governo gaúcho e que o MDB abra mão da candidatura do deputado estadual Gabriel Souza, para que ele seja vice na chapa.
Segundo Araújo tem dito a aliados, Leite está em processo de decisão, mas está propenso a aceitar se o MDB ceder e ficar com a vice.
Oficialmente, a viagem ao Rio Grande do Sul será destinada para discutir a elaboração do plano de governo com a equipe que auxiliar a senadora, coordenada pelo ex-governador gaúcho Germano Rigotto, do MDB.
“Simone vem ao Rio Grande do Sul em cima de um trabalho que estamos fazendo, uma imersão na quinta-feira com a equipe que cuida do plano de governo, que estou coordenando”, afirmou Rigotto.
Disse também: “Então, na verdade, se ela tiver algum contato com relação à questão do PSDB, ela pode até ter. Mas a razão da vinda dela para o estado não é essa”.
A ideia é que o plano de governo receba contribuições de partidos parceiros, como o Cidadania e o PSDB, caso a aliança com os tucanos se consolide.
Interlocutores na cúpula do MDB gaúcho, no entanto, apontam que a senadora deve tratar da aliança com caciques emedebistas e também com representantes tucanos. Ela tem bom trânsito com Leite, com quem já trocou elogios. Além do mais, o ex-governador gaúcho foi cotado para ser vice de Tebet na sua chapa ao Planalto.
Leite é o principal motivo pelo qual as negociações de aliança estão em compasso de espera.
Após deixar o governo estadual em uma cartada para se cacifar ao Planalto, o político gaúcho vem sendo considerado como uma incógnita.
Eventual candidatura ao governo poderia abrir margem para que Souza, pré-candidato do MDB, abandone seu pleito e aceite compor a chapa como vice.
O ex-governador esteve em Brasília nesta quarta (1º) e encontrou-se com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e com Tebet. Tasso é um dos principais cotados para vice na chapa nacional encabeçada pela senadora emedebista.
Embora não confirme publicamente, Leite sinalizou em conversas que topa se candidatar à reeleição no estado.
“Vim a Brasília para conversar com nossos dirigentes do PSDB para ajudar na reflexão e encaminhamento do processo nacional e, também, para apresentar o quadro do Rio Grande do Sul, sobre o qual estou mais focado”, disse à Folha.
As conversas, disse, seriam para “ajudar na tomada de decisão, mas sem encaminhamentos formais ainda”.
Caso Leite desista, o nome tucano deverá ser o atual governador Ranolfo Vieira Júnior. Lideranças emedebistas no estado afirmam que seria inviável uma aliança nesse cenário, pois o partido estaria abrindo mão da cabeça de chapa para um candidato sem a expressão de Leite e não muito distante nas pesquisas de intenção de votos.
Independentemente de quem seja o nome tucano, a hipótese de desistir de uma candidatura ao governo enfrenta a oposição de líderes emedebistas, em particular entre os mais tradicionais. Eles lembram que o MDB tem tradição no Rio Grande do Sul, elegendo 4 dos últimos 10 governadores.
Os mais pragmáticos, por sua vez, afirmam ser possível uma construção com o PSDB. Eles pontuam, no entanto, que a questão não deve se resolver com poucas reuniões e que podem ser necessários até 30 dias de conversas.
A própria pré-candidatura do emedebista Souza enfrenta questionamentos dentro do partido. Em primeiro lugar, porque o deputado estadual está tendo dificuldades para decolar nas pesquisas.
A forma como o nome foi escolhido ainda provoca ressentimentos, inclusive em caciques dentro do MDB gaúcho.
Inicialmente, estava prevista a realização de prévias para escolher os candidatos, entre Souza e o deputado federal Alceu Moreira. Posteriormente, houve uma manobra para que o nome fosse apenas referendado pela executiva estadual, o que desagradou Moreira, que saiu da disputa.
Em mais uma disputa problemática, caciques tentaram emplacar o nome do vereador Cezar Schirmer, que acabou não chegando a concorrer nas prévias. Esses dois episódios ajudaram a abalar o apoio em torno de Souza.
Também alguns caciques apontam como ponto negativo a proximidade de Souza com Leite, levantando acusações de que o tucano estaria interferindo em questões internas do MDB. Apesar dessas questões, Souza ainda conta com apoio de boa parte da bancada de deputados estaduais, prefeitos e vereadores.