A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto enfrenta uma disputa de bastidores pelo comando da comunicação. De um lado, está o coordenador de comunicação da equipe de Lula, Franklin Martins, e, de outro, o secretário do PT, Jilmar Tatto. Os dois têm protagonizado divergências sobre como conciliar a propaganda de Lula e do partido na corrida presidencial.
A ordem do marketing da campanha é investir na marca Lula, e não na imagem do PT, uma vez que o ex-presidente diz ser pré-candidato de “um movimento para reconstruir a democracia”. É com esse mote que Lula, favorito nas pesquisas de intenção de voto, tenta atrair aliados e montar uma frente contra o presidente Jair Bolsonaro, que vai concorrer à reeleição.
Ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) no segundo governo Lula, de 2007 a 2010, Franklin quer ter o controle sobre todas as ações envolvendo o ex-presidente. Tatto, por sua vez, exige autonomia para administrar as redes sociais, a TVPT – canal do partido no YouTube -, a rádio e o aplicativo da sigla.
A principal novidade sob sua direção, no momento, é o podcast para evangélicos, previsto para ser lançado neste mês com o pastor Paulo Marcelo. A comunicação institucional do PT está nas mãos de Tatto – ex-deputado que vai disputar novamente uma vaga na Câmara -, mas ele tem reclamado de interferência em sua área.
O PT repassou à equipe de Franklin, recentemente, três trabalhos que estavam a cargo da comunicação do partido. Deixaram de ser produzidos pelo PT, por exemplo, o monitoramento do que é falado sobre Lula e a legenda nas redes sociais, além da plataforma de denúncias sobre fake news e o site do ex-presidente.
Antes dessa transferência, os dados obtidos com o monitoramento das redes eram enviados para integrantes do Diretório Nacional, deputados, senadores e também para o núcleo da campanha. O Estadão apurou que Franklin considerou as informações estratégicas e, sob esse argumento, decidiu que deveriam ficar apenas com sua equipe.
Dois dinheiros
A decisão desagradou à Secretaria de Comunicação do PT, comandada por Tatto. Em conversas reservadas, dirigentes afirmaram que não há “dois dinheiros”, um para fazer serviço para Lula e outro para o partido.
Até o momento, o trabalho de monitoramento é pago com a verba do Fundo Partidário. Na avaliação de petistas, contratar duas análises seria também fazer o mesmo serviço duas vezes, já que Lula e o PT estão vinculados.
Na semana passada, o WhatsApp suspendeu contas de administradores dos grupos oficiais de apoio a Lula após o lançamento do portal Lulaverso. Criada pela comunicação da campanha, a multiplataforma está presente no Twitter, TikTok, Instagram, WhatsApp e Telegram.
A assessoria do ex-presidente afirmou que o bloqueio temporário das contas foi uma reação automática do WhatsApp ao intenso movimento dos grupos. Tatto disse em um grupo do PT que aquilo nada tinha a ver com o partido, mas, sim, com “a equipe do Franklin”.
Homem da confiança de Lula, o ex-ministro da Secom foi o responsável pela escolha do marqueteiro Augusto Fonseca, que assinará os programas de rádio e TV de Lula. Jornalista como Franklin, Fonseca é diretor da agência MPB Estratégia & Criação. Em 2002, ele atuou ao lado de Duda Mendonça na campanha de Lula. Tem em seu currículo, ainda, as propagandas políticas de Fernando Henrique Cardoso (1994), Marta Suplicy (2000), Aécio Neves (2014) e Ciro Gomes (2018).
Tatto sempre se orgulhou de ter “estatizado” a comunicação do PT, que conta com uma estrutura própria, e tirado as agências de publicidade de cena. Procurado, ele amenizou as divergências com Franklin. “O PT é um partido complexo, gigante, exige paciência, parcimônia”, desconversou. Depois, disse apenas que o atraso no lançamento do podcast destinado ao público evangélico se deve à reforma do terceiro andar da sede do PT, em Brasília, que abrigará o estúdio de gravação. Franklin não quis se manifestar.