Os três pré-candidatos à Presidência pelo PSDB, participaram nesta manhã de debate para expor suas ideias com vistas às prévias do partido. Os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, além do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto, concordaram entre si em questões mais amplas, como a necessidade de programas para proteção à mulher, da promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia, e da recuperação da política externa. Algumas alfinetadas entre os pré-candidatos surgiram durante o debate promovido pelos jornais “O Globo” e “Valor”, especialmente quando o assunto foi o apoio ao presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2018.
Assista abaixo:
“Não defendo que se ignore o debate da democracia. Quando tive de escolher numa eleição de plebiscito, eu apostava que no caminho do Bolsonaro às instituições o freariam. Foi um erro. Não há hipótese de apoiar uma candidatura Bolsonaro em 2022”, disse Leite. Acrescentou ter tido uma postura “clara” e não ter usado seu nome associado ao de Bolsonaro. “Perdi votos por não ter aderido ao Bolsonaro, não vendo a alma para ganhar eleição a qualquer custo”, acrescentou.
Leite deixou no ar a referência ao “Bolsodoria”, mote do governador paulista durante a campanha de 2018.
“Acho que não devemos ir para a eleição de 2022 contra Lula [Luiz Inácio da Silva] ou contra Bolsonaro [Jair]. Temos que ir a favor do Brasil. Se é para fazer política do contra, tem que ser contra a miséria, contra o desemprego, contra a inflação, contra todos esses problemas que estão aí”, afirmou Leite.
O governador gaúcho disse que se deve tentar entender as razões que eleitores de Lula e Bolsonaro têm para votarem neles. “Tem que compreender isso para tentar trazê-los juntos o máximo possível nas eleições e depois da eleição, principalmente”, afirmou.
Leite lembrou que o próximo presidente vai precisar fazer reformas e vai ter que mexer em medidas que são antipáticas. Haverá a necessidade, disse ele, de avançar do ponto de vista econômico em privatizações, reforma tributária e reforma administrativa. “Isso exige capacidade de coordenação política que não podemos permitir que num processo eleitoral se extermine. Não adianta ganhar a eleição sendo contra os outros e depois falar em unir o Brasil depois que promoveu mais divisão”, frisou.
O governador do Rio Grande do Sul observou ainda que será preciso adotar algum tipo de ajuste no teto de gastos e afirmou que é preciso ter políticas claras e metas não só para a questão fiscal. Para ele, é necessário um “Copom para a área social e Copom para o meio ambiente”.
Doria, por sua vez, afirmou que errou em relação ao presidente, assim como 65% da população. “Eu não tenho compromisso com o erro, eu não erro duas vezes”, disse, criticando duramente o governo federal. Para Doria, a gestão de Jair Bolsonaro “celebra ditadura, armas, torturadores” e é “uma vergonha para a democracia do Brasil”, afirmou. “Não precisaremos caminhar pelos extremos no Brasil, há alternativa a Lula e Bolsonaro”, acrescentou.
O governador paulista também procurou traçar paralelos entre o atual presidente e o ex-mandatário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando que ambos fizeram políticas sociais para “cooptar os mais pobres”, e não para realmente reduzir a pobreza.
“(Jair) Bolsonaro fez política pública para garantir votos, aliás, a mesma fórmula do PT, que usou por 13 anos e agora o Bolsonaro também tenta fazer”, disse Doria. Segundo ele, para promover a redução da desigualdade e não romper o teto de gastos, é preciso de políticas públicas claras, e “não vinculadas à ideologia” ou ao apoio no Congresso. Doria disse ainda que a responsabilidade fiscal é um legado do PSDB.
Para Doria, após o primeiro debate das prévias presidenciais do PSDB, a chamada terceira via será impulsionada pelo processo de escolha do candidato tucano ao Planalto. “O PSDB é único partido que está demonstrando apreço pleno pela escolha do seu candidato à Presidência da República ao fazer as prévias. Inclusive convidando dirigentes de outros partidos a acompanharem o debate”, disse.
O governador de São Paulo considerou a gestão de Bolsonaro como uma “vergonha para o país”. “Não há economia se não houver democracia”, disse. “Não precisaremos caminhar pelos extremos no Brasil, há alternativa a Lula e Bolsonaro”, acrescentou.
Por sua vez, Arthur Virgílio afirmou que coloca a democracia “acima de tudo”. “Sou filho de um deputado cassado pela ditadura que ficou 10 anos no exílio, ela é a base de uma nação, que tem sido ameaçada pelo governo Bolsonaro.” Segundo ele, o Brasil tem uma “chance de ouro” para sedimentar a união do país na eleição do ano que vem. Acrescentou ainda que o Brasil está envelhecendo sem enriquecer e se desenvolver e alertou que agora há a oportunidade de escolha para se corrigir essa trajetória.
O debate foi mediado pela colunista do Globo Vera Magalhães, e teve duração de aproximadamente duas horas. O objetivo foi fazer com que os pré-candidatos apresentem as propostas para as questões mais relevantes do país.
Doria chegou a anunciar na sexta-feira sua desistência em participar do debate. Em nota, ele criticou a própria sigla ao anunciar a decisão ‘“Faltou ao próprio PSDB o cuidado em dialogar previamente com todos os candidatos sobre as regras desse debate”, assinalou o governador tucano em seu comunicado.
No dia seguinte, contudo, ele reconsiderou a decisão e confirmou a presença. Ele disse ter cedido aos pedidos que chegaram por meio de centenas de mensagens de filiadores e apoiadores de sua candidatura pedindo sua participação.
O debate estava previsto desde 3 de setembro e todos os pré-candidatos se comprometeram a aceitar as regras a ser estabelecidas pelos jornais. De acordo com o jornal “O Globo”, a única divergência apresentada na época foi em relação à duração do evento, já que as pré-campanhas de Doria e Virgílio preferiam um debate meia hora mais curto que as duas horas previstas.
Foi o primeiro debate entre os presidenciáveis tucanos. Doria e Leite já participaram de debates com presidenciáveis de outras siglas, mas sem perguntas diretas entre os oponentes.
A prévia tucana irá ocorrer no dia 21 de novembro, estando prevista a possibilidade de realização de um segundo turno uma semana depois, caso nenhum candidato atinja a maioria absoluta.