Assim que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o novo coronavírus como uma pandemia, uma grande corrida por uma vacina contra a covid-19 começou. Vários países, laboratórios e cientistas em todo o planeta dedicaram esforços para criar um imunizante capaz de proporcionar uma proteção eficaz e segura.
De acordo com dados da OMS, há 287 vacinas em alguma fase de desenvolvimento em todo o mundo. Deste total, oito estão aprovadas para uso global, e há outras 12 que estão sendo usadas de forma local, e aguardam a aprovação da OMS.
No Brasil, conforme reportagem da revista Exame, quatro laboratórios já conseguiram o registro — definitivo ou emergencial — junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): AstraZeneca/Fiocruz, Sinovac/Butantan, Pfizer e Janssen. Outras duas, a indiana Covaxin e a russa Sputnik V, foram autorizadas para uso emergencial de forma controlada.
Como funcionam as vacinas disponíveis no Brasil?
Todas as vacinas visam ajudar o organismo a desenvolver anticorpos contra o vírus, como explica Katherine O’Brien, diretora do Departamento de Imunização, Vacinas e Produtos Biológicos da OMS. “Há duas grandes categorias de abordagem para fazer isso. A primeira é colocar na vacina parte da proteína do vírus ou a própria proteína. A segunda é dar instruções ao organismo sobre o modo de fabricar o anticorpo. É uma nova estratégia e que podemos desenvolver vacinas rapidamente”, explica.
Pfizer/BioNTech
A vacina do laboratório Pfizer/BioNTech usa a nova tecnologia indicada pela epidemiologista da OMS, chamada de genética do RNA mensageiro.
Dentro da vacina há uma proteína do coronavírus que estimula o corpo a produzir anticorpos e impedir a infecção. Ela é aplicada em duas doses, com intervalo de 21 dias.
No Brasil, o Ministério da Saúde optou por usar com intervalo de três meses, o mesmo usado em outros países como o Reino Unido.
Fiocruz/AstraZeneca, Janssen e Sputnik V
Essas vacinas são desenvolvidas com uma tecnologia muito conhecida, principalmente na produção de imunizantes contra a gripe. Os cientistas usam um adenovírus, que é inofensivo aos seres humanos, e o modificam geneticamente para que ele contenha uma forma muito parecida com a do coronavírus e que não cause a doença. Isso ajuda o sistema imunológico a desenvolver anticorpos contra a covid-19, capazes de neutralizar a infecção.
Fiocruz/AstraZeneca e Suptnik V são aplicadas em duas doses. A da Janssen é em dose única.
Instituto Butantan/Sinovac e Covaxin
A tecnologia da vacina Coronavac e da indiana Covaxin utiliza o vírus inativado, ou seja, em uma forma que ele seja incapaz de deixar uma pessoa doente. Como o contato é feito com um vírus “morto”, a vacina consegue mandar uma mensagem ao nosso organismo para criar defesas e estar preparado quando ele entrar em contato com o coronavírus real e ativo.
Ambas as vacinas (Instituto Butantan/Sinovac e Covaxin) são aplicadas em duas doses.
Eficácia das vacinas contra a covid-19
Nenhuma vacina tem eficácia de 100%, ou seja, capaz de impedir totalmente o contato com o coronavírus. Apesar disso, elas impedem que a maior parte das pessoas tenha a forma mais grave da covid-19 e, assim. nem precisem de atendimento médico. Um artigo da revista científica Lancet mostra como funciona o cálculo para estabelecer a eficácia das principais vacinas em uso no mundo.
O imunizante da Pfizer tem eficácia global de 95%. A vacina desenvolvida pela AstraZeneca, em parceria com a Fiocruz, tem capacidade de proteção de 79%. A Coronavac, do laboratório chinês Sinovac e do Instituto Butantan, tem eficácia global de 50,38%. O imunizante de dose única da Janssen tem eficácia de 66%. A russa Sputnik V tem uma taxa de proteção de 91,6%. Já a indiana Covaxin tem eficácia de 78%.
Veja um resumo da eficácia das vacinações contra a covid-19 na tabela abaixo:
Pfizer | 95% |
Sputnik V | 91,6% |
AstraZeneca | 79% |
Covaxin | 78% |
Janssen | 66% |
Coronavac | 50,38% |
Efeitos colaterais (não precisa ter medo)
Toda e qualquer vacina pode gerar algum efeito colateral e não há necessidade de se preocupar, apontam médicos e cientistas. Os mais comuns são dor de cabeça, dor no local da aplicação, febre e fadiga.
As vacinas que usam a tecnologia de adenovírus geralmente causam uma reação maior do organismo porque ela “simula” como se o corpo estivesse sendo infectado pelo coronavírus. Mas os sintomas passam em até 48 horas.
A recomendação dos médicos é para que, caso os sintomas sejam muito fortes, use medicamentos para controlar a febre e as dores. O uso de anti-inflamatório é desaconselhado porque pode atrapalhar a resposta do corpo ao processo inflamatório natural na criação de anticorpos contra o coronavírus.
Calendário de vacinação contra a covid-19
De acordo com o Ministério da Saúde, a imunização de todos os brasileiros, com as duas doses, será concluída até o dia 31 de dezembro.
Há a contratação de um total de 662 milhões de doses de vacina, com cronograma de entregar até o fim de 2021, ou seja, um excedente de 118 milhões — levando em conta a vacinação de toda a população.
Os maiores volumes foram comprados da Fiocruz/AstraZeneca (210 milhões), da Pfizer/BioNTech (200 milhões), e do Instituto Butantan/Sinovac (130 milhões).
Apesar de o calendário só ser concluído no fim do ano, muitos governos locais anunciaram a antecipação da vacinação. A conta é feita porque em muitos casos há uma diferença entre a projeção e as pessoas que efetivamente moram naquela cidade ou estado, e assim sobram mais vacinas.
Vacinação em São Paulo (atualizado em 4 de julho)
A meta do governo de São Paulo é aplicar pelo menos a primeira dose em todos os adultos, acima de 18 anos, até o dia 18 de setembro. Desde o dia 16 de junho começou a primeira fase de aplicação de pessoas sem comorbidades, entre 50 e 59 anos. A cidade de São Paulo precisou fazer uma alteração no cronograma por conta da falta de doses.
Na capital, a vacinação de pessoas com 39 anos ocorre nesta quinta-feira, 8. Amanhã, sexta-feira (9), acontece a vacinação para o grupo de 38 anos, público estimado em aproximadamente 145 mil pessoas. Na segunda-feira (12) é a vez da imunização da população com 37 anos, grupo estimado em aproximadamente 149 mil pessoas.
Vacinação no Rio de Janeiro (atualizado em 4 de julho)
No estado do Rio de Janeiro a imunização de pessoas sem comorbidades está prevista para iniciar em julho e ir até outubro. Na capital fluminense, houve a antecipação do início de aplicação para junho. O cronograma prevê a vacinação de uma faixa etária por dia, separada por gênero. Jovens abaixo de 17 anos serão imunizados a partir de setembro.