O Ministério da Saúde assinou um acordo com o Instituto Butantan de distribuição exclusiva da CoronaVac, vacina contra a covid-19 produzida em parceria com a chinesa Sinovac. Com isso, todos os 10,8 milhões de doses que estavam, desde dezembro, em posse do governo paulista serão repassados ao governo federal.
O contrato pode resultar na troca do rosto à frente da vacinação contra covid-19 no Brasil. Até então, o governador João Doria (PSDB-SP) havia tomado a iniciativa, com data marcada para o início à imunização (25 de janeiro, aniversário de São Paulo) e um plano estadual próprio. Agora, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que já rejeitou o imunizante publicamente e minimiza a pandemia, pode assumir o protagonismo — e, quem sabe, colher os louros.
A transferência total das doses foi confirmada pelo Instituto Butantan. Nesta semana, em meio à divulgação de dados sobre eficácia da vacina, assinatura de contrato e pedido de uso emergencial para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), este cenário ainda não estava tão claro.
O plano estadual de imunização, anunciado em dezembro, foi o foco do governo Doria no último semestre. São Paulo conseguiu garantir em setembro um acordo com a Sinovac para compra de 46 milhões de doses, com troca de tecnologia com o Butantan. Cada nova remessa da China era comemorada pelo governo paulista, com a eventual presença do próprio Doria no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Dentro do Palácio dos Bandeirantes, que nomeou CoronaVac de “vacina do Brasil, “estava consolidado que o estado tomaria a dianteira dada inatividade federal.
Agora, depois de um longo vaivém do governo federal, o cenário pode mudar. “Os 46 milhões de doses que serão fornecidas ao Ministério da Saúde incluem os 10,8 milhões que foram adquiridas da biofarmacêutica Sinovac e já estão em solo brasileiro”, disse o Instituto Butantan ao UOL.
Dimas Covas, diretor do instituto, tratou dessa dinâmica. “O ambiente até semana passada era um, o ambiente de quinta-feira [7] para cá é outro. Quinta-feira, o ministério incorporou a vacina ao programa nacional de imunização”, disse o pesquisador, em um evento numa rede de educação ontem.
Integrar-se ao PNI (Plano Nacional de Imunização) sempre foi uma possibilidade considerada por São Paulo, mas não plenamente admitida. Tanto que, na noite de quinta, Doria chegou a dar uma entrevista para a GloboNews negando que o contrato com o ministério havia sido assinado cerca de uma hora e meia depois de o documento ter sido firmado.
Agora, resta saber se o governo de São Paulo tem ou não autonomia para manter a prometida data de início da imunização, caso o plano nacional comece depois do dia 25 de janeiro. Para Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde, e João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência, a previsão se mantém.
“Se o programa nacional começar em 20 de janeiro, por óbvio o programa estadual também será antecipado. É o que queremos. O que pode não acontecer é se o programa nacional decidir por postergar a data de início da vacinação, São Paulo não abrirá mão de iniciar vacinação no dia 25 de janeiro”, disse Gabbardo, em entrevista coletiva na sexta.
Procurada, a Secretaria de Saúde afirmou que o estado “está preparado para iniciar a campanha de vacinação contra covid-19 no dia 25 de janeiro, conforme anunciado”, sem especificar se esta organização se daria pelo governo federal ou pelo estadual.