Petistas na Bahia acusam direção estadual de ignorar 380 candidaturas jovens

Entre dizer que é preciso renovar e incentivar a participação da juventude na política, uma coisa é a teoria, outra, a prática. Basta olhar o resultado das urnas em 2020 na Bahia, propõem o vice-presidente do PT estadual, Gutierres Barbosa, e membros da Direção Executiva e Juventude em uma Carta divulgada nesta terça-feira (17)

E o problema, segundo eles, é que das 400 candidaturas jovens do Partido – o maior número de inscritos no Brasil – apenas 20 receberam recursos para financiamento de campanha nas eleições municipais. As demais ficaram “à deriva”, sem apoio ou ajuda sequer para produzir um santinho.

Segundo o documento intitulado “Renovação no PT: entre o discurso e a prática“, as eleições 2020 revelam para toda a militância do PT e as candidaturas do Partido que se colocaram para a disputa eleitoral “a grande contradição” entre o discurso e a prática do presidente e do tesoureiro do Partido no âmbito estadual.

A distribuição interna de recursos prevista pelo Financiamento Público de Campanha, aprovada pelo Congresso em 2017, assim como a destinação de 3% do Fundo do Partido para candidaturas jovens, deveriam impulsionar as candidaturas de esquerda nas eleições deste ano. Não foi o que ocorreu, eles dizem.

“O candidato Josimar, em Ilhéus, recebeu R$ 19.000,00 e 107 votos; a candidata jovem Dani Ferreira, em Salvador, R$ 44.000,00 e 677 votos. Já o candidato a vereador no terceiro maior colégio eleitoral da Bahia (Vitória da Conquista), Alexandre Xandó, jovem, obteve 2.932 votos (foi o terceiro vereador eleito mais votado) e, mesmo assim, excluído do recebimento do Fundo Especial Eleitoral”.

Assinam a Carta, além de Gutierres Barbosa, Luis Henrique (Direção da JPT da Bahia e Coordenação Estadual do Movimento Representa), Bruno Araújo (Direção da JPT da Bahia) e Jeane dos Anjos e Tami Messias (Direção Executiva do PT da Bahia).

Leia abaixo, na íntegra, a Carta “Renovação no PT: entre o discurso e a prática”

“Renovação no PT: entre o discurso e a prática”

Com a aprovação do Financiamento Público de Campanha no Congresso, em 2017, encerrou-se uma luta histórica dos partidos de esquerda para que haja um maior equilíbrio nas disputas eleitorais. Mas, o que deveria ser sinônimo de conquista, nos parece distante quando o assunto é a sua distribuição interna.

Um outro debate realizado, este dentro do Partido dos Trabalhadores, pela Secretaria Nacional de Finanças, era que o Partido com uma força na juventude pudesse contemplar e fortalecer a participação de jovens, lgbts, negros, negras, militantes sindicais, agrários e da cultura nas eleições. Foi aprovado que 3% do Fundo iria para candidaturas jovens.

Na Bahia, esse debate ficou ainda mais longe, mas as urnas não deixam a realidade escondida. Ou seja, entre dizer em todos os cantos que temos que renovar e incentivar a participação da juventude na política, e na “hora do vamo ver” investir o recurso do Fundo Especial de Campanha, existe uma distância grande. Alguns exemplos dão luz à nossa posição.

O candidato Josimar, em Ilhéus, recebeu R$ 19.000,00 e 107 votos; a candidata jovem Dani Ferreira, em Salvador, R$ 44.000,00 e 677 votos. Já o candidato a vereador no terceiro maior colégio eleitoral da Bahia (Vitória da Conquista), Alexandre Xandó, jovem, obteve 2.932 votos (foi o terceiro vereador eleito mais votado) e, mesmo assim, excluído do recebimento do Fundo Especial Eleitoral. Fez campanha com muita militância e financiamento coletivo de campanha (método permitido por lei, por meio do qual pessoas físicas fazem doação ao candidato).

O Comitê Gestor Estadual (GTE) das eleições na Bahia ignorou deliberações nacionais que sugeriam ouvir as secretarias e setoriais dos partidos. A direção de juventude do partido tentou diversas vezes, mas não teve resposta às dezenas de mensagens e ligações para o presidente do partido, que também ignorou a deliberação nacional de que candidaturas à reeleição fossem priorizadas pelo GTE e nos municípios.

O GTE ignorou as 400 candidaturas jovens do Partido que se organizaram na Bahia a partir do Movimento Representa, o maior número de inscritos no Brasil! Apenas 20 candidaturas jovens receberam recursos da pequena porcentagem dos setoriais nacionais, as demais 380 ficaram à deriva: sem apoio, atenção ou qualquer tipo de diálogo ou ajuda na produção de um santinho de campanha, por exemplo. Mesmo abandonados pela direção estadual do PT, esses jovens conseguiram impactar o processo eleitoral, defenderam o legado do partido e fizeram o debate político com o povo baiano, conquistando corações e mentes e levando esperança.

As eleições 2020 revelam para toda a militância do PT e as candidaturas do Partido que se colocaram para a disputa eleitoral a grande contradição entre o discurso e a prática do presidente e do tesoureiro, que utilizaram o discurso da “Renovação” (uma contradição com o histórico de militância de ambos que, no passado, foram quadros dirigentes da juventude do PT).

Esse conjunto de práticas nos faz refletir sobre onde o PT da Bahia quer chegar remando contra a maré da transição geracional, tão presente nos discursos e tão ausente na prática. E nos deixa uma interrogação sobre qual caminho está sendo pavimentado para o futuro do Partido.

Luis Henrique – Membro da Direção da JPT da Bahia e da Coordenação Estadual do Movimento Representa
Bruno Araújo – Membro da Direção da JPT da Bahia
Jeane dos Anjos – Direção executiva do PT da Bahia
Tami Messias – Direção Executiva do PT da Bahia
Gutierres Gaspar – Vice presidente do PT da Bahia