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Funcionários verificam linha de montagem na fábrica da empresa brasileira de cosméticos Natura / Foto: Reprodução/AFP
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sexta-feira 10 de abril de 2020 às 15:19h

Gigantes brasileiras praticam “filantropia corporativa” contra o coronavírus

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Grandes grupos industriais brasileiros – de cosméticos, bebidas e calçados, entre outros – se converteram parcial ou totalmente para a fabricação de máscaras, álcool ou sabão, essenciais na luta contra o coronavírus, em uma estratégia de “filantropia corporativa”.

O Brasil, que superou 15 mil casos e 800 mortes, corre contra o tempo antes que o surto de COVID-19 chegue ao auge, previsto para o fim de abril.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, fez um apelo na quarta-feira ao afirmar que “qualquer empresário pode ajudar, contrate pessoal para fazer máscaras de pano, construa redes de solidariedade, distribua cestas básicas”.

Várias empresas foram contratas para fabricar respiradores, mas outras não esperaram o chamado e começaram a produção, com o objetivo de doar a instituições públicas parte do material necessário.

Entre elas estão a cervejaria Ambev, a Natura&Co (cosméticos) e Arezzo&Co (calçados), três dos grupos mais emblemáticos da maior economia latino-americana.

“Cada um deve fazer o que está a seu alcance para ajudar a minimizar os reflexos e angústias que nossa sociedade está passando”, disse à AFP Jean Jereissati, diretor-geral da Ambev.

A empresa, que tem operações em quase 20 países, anunciou a produção de 500.000 frascos de álcool em gel, que serão doados a hospitais públicos, e a confecção de 3 milhões de máscaras que serão destinadas ao Ministério da Saúde, assim como apoio logístico para construir um anexo ao sistema público de saúde com cem leitos disponíveis em São Paulo.

“Escolhemos ajudar com o álcool em gel porque vimos que é um produto em falta, muito necessário para combater a propagação do vírus, e que estava ao nosso alcance, já que tem a ver com o que fazemos no nosso negócio”, disse Jereissati.

O álcool em gel começou a faltar nas farmácias de São Paulo há um mês e chegou a ser racionado no estado, epicentro da doença no Brasil.

Parte das linhas de produção de uma fábrica da cervejaria no Rio de Janeiro trabalhará neste novo ramo.

 Investimento em reputação

“É uma estratégia de reputação, já que a crise é grande e diante do risco de resultados negativos nesse ano, uma boa alternativa é investir na sua reputação”, diz Marina Gama, professora da escola de administração de empresas da Fundação Getúlio Vargas.

“A filantropia corporativa nunca esteve tão em alta no Brasil”, garante Gama, que acredita que esta tendência é coerente com uma mudança de mentalidade mundial, que “comece a considerar a sociedade, não apenas os acionistas”.

“É de extrema importância que as empresas passem a auxiliar o governo e a sociedade para enfrentar a crise”, defende ela.

Natura&Co anunciou a adaptação de suas fábricas para produzir exclusivamente produtos de higiene pessoal, além de álcool em gel e líquido.

O consórcio formado por Natura, Aesop, Avon, The Body Shop e o Grupo São Martinho (do setor sucroenérgetico, que produz energia a partir da cana-de açúcar) anunciarão também a produção de 15.000 quilos de álcool em gel e outros 150.000 litros do produto em líquido que serão doados à Secretaria de Saúde de São Paulo.

O fabricante de calçados Arezzo&Co modificou parte de sua linha de produção para confeccionar 25.000 máscaras de proteção, que serão doadas a secretarias de saúde do Rio Grande do Sul. A produção, que contou com doações de material e o trabalho de voluntários, cresce em doze fábricas locais.

Os três grupos informaram que adequaram suas operações para garantir a estabilidade de sua força de trabalho, respeitando as recomendações de isolamento do Ministério da Saúde.

O tema gerou um embate político entre o ministro Mandetta e o presidente de ultradireita Jair Bolsonaro, que pede a reabertura do comércio não essencial e a “volta à normalidade” apesar do avanço da pandemia.

Na linha de Bolsonaro, alguns empresários criticaram o fechamento do comércio não essencial nas redes sociais, mas tiveram que mudar de posicionamento diante de reações negativas entre os internautas.

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